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Trânsito no Recife é devagar, quase parando
Publicado em 18.09.2009, às 08h04
Roberta Soares betasoares8@gmail.com
O Recife anda a passos lentos, quase parando. Ir e vir, todos os dias, têm sido mais penoso. As pessoas permanecem mais tempo nos carros, presas nos congestionamentos. A capital pernambucana ainda está longe de alcançar os transtornos da cidade de São Paulo, que registra até 200 quilômetros de engarrafamento, mas há corredores em que a velocidade média, nos horários de pico e no sentido mais carregado, é de 9 quilômetros por hora, no máximo 10 quilômetros por hora. A ausência dos agentes de trânsito nas ruas agrava a situação. Deixa condutores à vontade para cometer as mais variadas infrações, principalmente, o estacionamento irregular e a carga e descarga em horário e local proibidos.
A capital tinha até julho deste ano quase 500 mil veículos registrados. Mas, na prática, recebe em seu sistema viário a frota da Região Metropolitana, que até o mesmo período era de 800 mil carros. Por mês, são dois mil novos veículos entrando nas ruas. Mesmo assim, o efetivo da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) é de 296 agentes de trânsito. E, diariamente, cai para 200 homens, devido à escala de trabalho. São profissionais que se dividem em variadas funções, não apenas na fiscalização de rua.
Na última segunda-feira, quem saiu da Zona Sul do Recife sentiu na pele os transtornos no trânsito do Recife. Um percurso que, mesmo com as retenções normais, é feito em 20 minutos, levou até uma hora e meia. E o mais grave: não havia um único agente de trânsito entre Boa Viagem e o Cais da Alfândega, no Centro, onde horas antes acontecera um acidente sem vítimas. Terça-feira, à noite, a reportagem do JC levou uma hora e 45 minutos para percorrer 19 quilômetros no horário de pico, sem ver nenhum agente. Perdeu quase uma hora para sair da Ilha do Leite e chegar ao Paissandu, bairros vizinhos, na área central. Levaria o mesmo tempo para ir a Caruaru, distante 130 quilômetros da capital, no Agreste.
“A fiscalização é fundamental, sem dúvida. Estamos alimentando um tubarão branco, com o uso exacerbado e inadequado do automóvel, isso é fato. Mas é a presença do agente de trânsito que vai fazer com que os motoristas respeitem a lei. Se o grau de impunidade for cada vez maior, o cidadão não vai cumprir as regras”, argumenta o vice-presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), César Cavalcanti.
No entendimento do técnico, a preparação dos agentes de trânsito também fica a desejar. Quarta-feira, uma cena ocorrida na Ponte do Pina, principal saída da Zona Sul, exemplifica bem o que diz Cavalcanti. Dois agentes de moto passaram por um carro com a roda esquerda quebrada. Pararam, conversaram por alguns segundos com o condutor e foram embora, indiferentes à gigantesca retenção formada atrás do veículo, que já chegava à Avenida Boa Viagem. “Como cidadão, não entendo a postura deles. Seria correto eles terem parado e, já que não podiam tirar o veículo da pista, porque isso só pode ser feito com reboque, orientassem o tráfego”, critica o professor Carlos Frederico Gomes, 52 anos, um dos motoristas parados na retenção. Conversando tranquilamente, os agentes foram embora.
Menos de uma hora depois, na Avenida Rosa e Silva, na Zona Norte do Recife, um caminhão estacionado na faixa da esquerda descarregava produtos para uma padaria localizada na esquina com a Rua Amélia. Atrás dele, as filas de carros e nenhum agente de trânsito. O pouco efetivo da CTTU compromete também o atendimento aos acidentes. “Eu esperei 45 minutos para que os guardas chegassem. É muito tempo, mas para mim o pior é a falta de posicionamento deles diante da ocorrência. São meros preenchedores de papel, sem colher detalhes”, critica o representante comercial Fernando Lima, 48, vítima de um acidente na manhã de terça-feira, na Avenida Agamenon Magalhães.